quarta-feira, 12 de novembro de 2008 à(s) 02:00 |  
Ambientalistas estão contra a abertura de novas estradas na zona da Serra da Estrela

«Privilegiar até à exaustão a melhoria das vias já existentes»

A Plataforma para o Desenvolvimento Sustentável da Serra da Estrela (PDSSE) contesta o Plano Rodoviário Nacional (PRN) na Região Centro Interior, defendendo o aproveitamento de traçados existentes, em vez da abertura de novas estradas, como consta nos planos do Governo. Ambientalistas fizeram também uma queixa à Comissão Europeia.
Rómulo Machado, elemento da PDSSE, informou que a Plataforma rejeita as ligações previstas para a região da Serra da Estrela, relacionadas com a construção dos traçados dos itinerários complementares (IC) 6, 7 e 37, por considerar que representam «inconvenientes» ambientais e investimentos «desnecessários».
Em conferência de imprensa, realizada em Seia no passado dia 24 de Outubro e na qual só marcou presença o jornal Porta da Estrela, este elemento da Plataforma disse que se deve «privilegiar até à exaustão a melhoria das vias já existentes sobre a construção de vias novas», com «excepção da ligação Seia - Nelas - Viseu, porque como vai ser construída a barragem de Girabolhos, terão que ser feitos acessos», explicou o elemento da Plataforma, que é constituída por associações ambientalistas e de agricultores da região.
Rómulo Machado adiantou ainda que com a postura assumida, pretende-se «evitar a duplicação e triplicação de rodovias novas», nomeadamente por «razões ambientais, porque a destruição de zonas naturais, florestais, agrícolas é incomparavelmente menor com a melhoria das estradas existentes, mas também por razões sociais, para evitar a criação de efeitos barreira entre povoações, e até por razões económicas».

Melhorar as estradas 230 e 231 e construir túnel na serra da Alvoaça
Quanto à escolha do Governo, que recaiu sobre o cenário C, a Plataforma «discorda profundamente» dela, porque no que respeita à travessia da Serra entre Gouveia - Seia - Oliveira do Hospital e Covilhã apresentou uma proposta «que aproveita as actuais estradas 231 e 230, que liga Seia, Loriga, Alvoco da Serra e Unhais da Serra, melhorando-a significativamente com corte de curvas e introdução de algumas zonas de viadutos para, por um lado, tirar quilómetros e, por outro, para a tornar mais recta» e «com um túnel de Alvoco a Unhais, de quatro, cinco quilómetros sobre a serra da Alvoaça, e que iria permitir cortar cerca de 20 quilómetros de curvas na estrada, havendo no total uma poupança de cerca de 40 quilómetros». E referiu ainda que a Liga da Protecção da Natureza, que faz parte da Plataforma e que também marcou presença na conferência de imprensa, apresentou para esta travessia uma proposta em túnel, «mas em túnel único, a entrar na zona do Teixoso (Covilhã) e a sair em Santa Marinha (Seia), sem zonas a céu aberto».
A proposta do cenário C implica a construção de uma via rápida «toda nova» que ao entrar na área de São Gião e Sandomil «destruirá uma parte significativa do vale do Alva e da ribeira de Alvoco, zonas da Serra únicas em termos paisagísticos», salienta o dirigente da PDSSE, que destaca ainda a ribeira de Alvoco «como um dos poucos vales de ribeira de montanha que está praticamente intacto; e, portanto, é uma machadada que consideramos absolutamente inadmissível».
Já em relação à ligação entre Catraia dos Poços (Coimbra) e Celorico da Beira ou Fornos de Algodres (ligação com a auto-estrada A25), diz: «Nós defendemos o cenário A com correcções», sugerindo, como aí está definido, «a melhoria da Estrada da Beira (Nacional 17), cortando curvas e introduzindo terceiras vias para ultrapassagens nos muitos pontos onde tal é possível e, eventualmente, rodeando uma ou outra povoação». Neste caso, é defendido que «nunca seja feito um IC todo, mesmo ao lado da Estrada da Beira», porque «vai provocar uma destruição brutal de toda essa zona de floresta que é uma das mais ricas, senão a mais rica, de toda a zona Centro do País». Disse ainda que ao ser construída uma nova via paralela a esta, «vai destruir terrenos agrícolas, afectando igualmente áreas significativas de produção de vinhos do Dão, especialmente na zona de Pinhanços, e Zonas de Intervenção Florestal (ZIF)».
Quanto à ligação Seia - Nelas - Viseu, adiantou que é defendido que também se aproveitem as ligações existentes e os futuros acessos à barragem de Girabolhos, a construir no rio Mondego. O dirigente da PDSSE referiu que os ambientalistas discordam «frontalmente da opção escolhida entre Oliveira do Hospital e Seia, a destruir uma brutalidade de hectares de floresta e de uma zona agrícola, com um traçado que passa praticamente encostado ao sítio da Rede Natura 2000 denominado “Carregal do Sal”».
Rómulo Machado disse também que o traçado proposto pelo Governo «vai criar uma barreira entre as várias aldeias existentes na zona atravessada, sendo também a pior solução do ponto de vista de conectividade rodoviária, uma vez que descentra o eixo Gouveia - Seia - Oliveira do Hospital, marginalizando completamente Gouveia e afastando significativamente o acesso de Seia, ficando a servir em pleno apenas Oliveira do Hospital, que, das três referidas urbes, é a que mais próximo fica tanto de Coimbra como do IC 12», que está a ser construído em perfil de auto-estrada. Por fim, salientou ainda que a opção pelo cenário C «é absolutamente desastrosa, tanto do ponto de vista ambiental, como económico, social e até de conectividade rodoviária, como demonstra a coincidência de posições entre as associações de defesa do ambiente, empresariais, de agricultores, de produtores florestais e mesmo de alguns municípios».

Viciação dos dados
Mas a crítica mais grave feita pela Plataforma diz respeito a alegadas irregularidades no processo de decisão. Acusando os promotores de terem unicamente como objectivo validar um dos cenários em discussão (cenário C), as associações dizem que as posições que assumiram na discussão pública da avaliação ambiental estratégica do PRN na Região Centro Interior foram alteradas. «Consideramos muito grave que grande parte do relatório final e declaração ambiental se baseie em dados falsos, de que são exemplos a afirmação de que a ligação a Viseu no cenário C é a que mais se afasta das áreas protegidas e a alteração das posições assumidas pelas entidades que participaram na consulta pública, tendo-se chegado ao ponto de fazer constar nas fichas de consulta posições totalmente diferentes, e em alguns casos opostas às que foram tomadas pelas entidades participantes», refere o dirigente da Plataforma.
Em declarações prestadas ao jornal “Público”, a Estradas de Portugal diz, entretanto, que esta afirmação é falsa. «Com efeito, o cenário C, aprovado em sede de Declaração Ambiental, não interfere com o Sítio de Interesse Comunitário Carregal do Sal nem com a espécie da flora (Narcissus scaberulus) que mais importa preservar», reafirmando também que «a orientação da consulta pública para a escolha do cenário C como preferencial, tendo em atenção o número significativo de participações que o elegeu».
Perante o que entendem ser uma «tamanha falta de clareza», a Plataforma para o Desenvolvimento Sustentável da Serra da Estrela pediu três audiências a Paulo Campos, Secretário de Estado Adjunto, das Obras Públicas e das Comunicações, mas como não obtiveram resposta enviaram antes o parecer ao Presidente da República e denunciaram a situação à Comissão Europeia, que, segundo nos disse Rómulo Machado, «já notificou o Estado Português para responder as questões» levantadas.
NOTA: Advinhem lá de onde é este indíviduo...o Sr. Paulo Campos, Secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas e das Comunicações, que tanto lutou pela a aprovação deste cenário "C" rejeitando audiências e inquinando qualquer tentativa de ir contra esta solução??
A solução passa pelo texto a vermelho ;)

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