quinta-feira, 10 de setembro de 2009 à(s) 23:29 |  
"Viram o Hungria-Portugal de hoje? Sim? Os meus pêsames. Eu também fui um dos otários sentados diante do televisor durante quase duas horas a levar com futebol de merda e comentários a condizer.

Dizem que o meu sacrifício foi recompensado com uma “vitória pragmática”, palavra de especialista! Já vi jogos de matraquilhos mais emocionantes e bem jogados, mas precisávamos dos três pontos e temos os três pontos, assunto arrumado.

Mas… e o Ronaldo? Passa-se alguma coisa com o puto, não vos parece? Está a reagir mal às críticas – o melhor jogador do mundo sente uma necessidade desesperada de ser o melhor jogador do mundo com a camisola de Portugal e concentra-se mais nesse objectivo individual do que no objectivo da equipa. Isto em si não seria um problema se a culpa fosse só dele.

Querer agradar até é bonito, lembra os velhos tempos de liceu quando a namorada ficava a ver o jogo e a malta fazia-se à bola de peito feito só para impressionar a rapariga. A diferença é que a namorada perdoa-nos as aselhices porque separa o futebol da pessoa; os treinadores de bancada em Portugal têm dificuldades em fazer essa separação e gostam de espetar as unhas na pessoa quando o que está em causa é apenas um jogador, e um jovem jogador desorientado.

A apetência do português em malhar forte e feio nos próprios compatriotas tem sido potenciada pela Internet. Se Ronaldo é assim-assim, criticam-no por não ter sido bom; se é bom, criticam-no por não ter sido excelente; se é excelente, é porque não foi genial – vocês sabem como é.

Há quem diga agora que o homem é um bluff. Até gajos que não percebem nada de futebol – como eu ou o Rui Santos – conseguem ver o disparate que é considerá-lo um futebolista medíocre. Anda tudo maluco? É um dos melhores do mundo!

Também não acho que Ronaldo seja uma prima-dona, apenas se comporta como tal. Ora, essas merdas corrigem-se. Não vamos concluir que uma criança é intrinsecamente má só porque se porta mal, não é? O mesmo com Ronaldo. Uma criança educa-se, um jogador de futebol substitui-se. Até porque nunca ouvi nenhum colega ou ex-colega de equipa a queixar-se dele. Dizem que é um rapaz humilde, trabalhador e dedicado nos treinos, de trato simples e sem tiques de vedeta.

Mas no rosto de Ronaldo com a camisola de Portugal só vejo confusão e desespero. Fica com cara de Tintim desnorteado nos grandes planos da televisão. Sente-se injustiçado quando os adversários não o deixam corresponder ao seu estatuto. Refila como um jogador indisciplinado, não como um capitão. Por que raio este rapaz simples e humilde se transfigura em vedeta quando joga por nós?

O puto precisava de se libertar da responsabilidade de carregar às costas o destino da selecção, mais o peso dos nossos defeitos e qualidades – que fizeram então os iluminados da Federação? Um erro, como sempre: promoveram-no a capitão, transmitindo aos jogadores mais velhos da equipa que para ser capitão da selecção de Portugal basta ser considerado o melhor jogador do mundo, e não o mais adulto, sensato, inteligente e solidário.

Vou dar-vos um exemplo do que é ser um capitão na selecção portuguesa. A história é pouco conhecida porque foi contada numa breve de jornal desportivo e passou despercebida. Lembram-se quando o Figo saiu da selecção durante uns meses? Quem o substituiu foi Pauleta. Quando regressou, havia quem temesse problemas no balneário se o Figo, com mais internacionalizações, reclamasse a braçadeira. Sabem o que fez Pauleta? Assim que viu o Figo chegar ao estágio, sorriu, foi cumprimentá-lo e disse, em voz alta: “Olhem! O nosso capitão está de volta!“. E pronto, problema resolvido. Os capitães são assim: pontas de lança capazes de passar a bola para o companheiro que está melhor colocado.

Para Ronaldo, ser capitão significa primeiro jogar melhor do que os outros, em vez de jogar melhor com os outros. Está duplamente isolado, até porque ninguém lhe consegue explicar que a melhor selecção do mundo é aquela que não precisa de um melhor jogador do mundo para ser campeã. Agora digam-me, é só ele o culpado por não ser substituído quando joga mal ou está demasiado cego para conseguir jogar em equipa?"

gamado do Bitaites

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